quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Palestra: Dependência

Palestra realizada por Rita Barboza em nosso centro em 05 de setembro de 2011, dentro do ciclo de palestras sobre as obras de Hammed.

Dependência

A palestra de hoje é sobre o assunto da “Dependência”. Para essa palestra, busquei como inspiração, além dos livros de Hammed que orientam esse ciclo (As dores e os prazeres da alma), as obras básicas espíritas e alguns ensinamentos budistas que me pareceram bastante apropriados para essa reflexão.

Mas antes de entrarmos propriamente no assunto da Dependência, gostaria de fazer uma reflexão sobre a questão das Dores da Alma e da aprendizagem enquanto caminho de evolução.

Uma afirmação que podemos fazer e que nos unifica enquanto seres humanos é de que cada um de nós deseja ardentemente se libertar do sofrimento e da dor. Uma forma de buscar essa libertação é através do estudo e entendimento das nossas relações com o sofrimento e com a dor. É nesse sentido que temos realizado as palestras com base na obra de Hammed. Assim, analisamos aquilo que nos traz sofrimento para que possamos aprender com esse sofrimento e não para julgarmos aos outros nem a nós mesmos.

No livro “As dores da alma”, Hammed indica: “em verdade, os “pecadores” precisam mais de auto-análise, reparação e tratamento do que de condenação, repressão ou castigo” (p.16). Então, as dores são as nossas educadoras, trazem a nós a oportunidade de nos compreendermos melhor e de crescermos espiritualmente. “Todos somos alunos, não malfeitores, na escola da vida”. (p.18)

O que é uma dor da alma? Hammed explica, “As dores da alma provocam um aperto no peito, uma dificuldade de respirar, uma sensação que o coração vai se partir” (p.18). Assim, através dos nossos sentimentos e sensações podemos perceber o que é que nos causa dor. Aí, já estamos introduzindo o tema da dependência/independência, porque estamos afirmando que não há ninguém melhor do que nós mesmos para avaliar se estamos no caminho correto. Os nossos amigos encarnados e desencarnados (anjos de guarda, mentores) estão sempre dispostos a nos auxiliar na tomada de decisões e nos inspirar bons pensamentos, o que é de grande valor, mas sempre caberá a nós a escolha da melhor atitude a tomar.

Por isso, sempre que buscarmos uma aprendizagem, sobretudo que diga respeito à nossa transformação íntima, devemos fazê-la utilizando a nossa consciência e análise. Só assim poderemos realmente assimilar o conceito que estamos estudando e modificar as nossas atitudes de maneira sincera e efetiva.

No campo da análise e aprendizagem dos ensinamentos espirituais, o budismo nos apresenta o “princípio das quatro confianças”:

1. Não confie na pessoa, confie na doutrina

2. Sobre a doutrina, não confie nas palavras, confie no significado:

3. Sobre o significado, não confie no significado sujeito à interpretação, confie no significado definitivo

4. Sobre o significado definitivo, não confie na consciência comum, confie na sabedoria exaltada.

Com esses princípios entendemos que não deveríamos confiar na fama, no status nem em nenhum outro atributo do mestre, mas, sim, no que ele diz. Ainda, não devemos confiar cegamente no que está sendo dito e sim, avaliar o significado e conteúdo das palavras. No capítulo XXI do Evangelho segundo o Espiritismo, chamado “Haverá falsos cristos e falsos profetas”, Kardec nos ensina a conhecer as árvores por seus frutos, ou seja, submeter à avaliação criteriosa e moral tudo aquilo que se apresentar a nós como sendo divino. Esse entendimento deve ser buscado não pela consciência comum, ou seja, nossa razão puramente intelectual ou nossas impressões superficiais, e sim pela sabedoria exaltada, que pode ser entendida como a nossa alma, nosso estado íntimo de encontro com Deus. Esse estado pode ser conquistado através da oração, da humildade e da meditação.

O interessante a observar é que, enquanto nos convoca a avaliar intimamente os seus preceitos, o espiritismo e outras filosofias que têm esse propósito, como o budismo, estão nos convocando a buscar uma atitude autônoma e original sobre as nossas vidas.

Uma das maiores graças que Deus nos concedeu foi o que chamamos de Livre Arbítrio, ou seja, a condição de decidirmos os caminhos que vamos trilhar na vida, dentro da lei da ação e da reação. Assim, somos responsáveis pelo bem e pelo mal que praticamos conosco e com os outros durante nossa existência. Muitas vezes, aquilo que consideramos como sendo “injustiças de Deus” se trata justamente da relação negativa de dependência que estabelecemos com Ele, esperando que os nossos problemas e os problemas do mundo sejam resolvidos sem o nosso envolvimento e responsabilidade.

Deus quer que sejamos “nós mesmos” compreendendo nosso valor pessoal como seus filhos, criados “sob medida”, para percorrer um caminho particular de evolução espiritual, assumindo a responsabilidade sobre os nossos atos e escolhas. Hammed indica que “no Novo Testamento, capítulo 7, versículo 13, assim escreveu Mateus em seus apontamentos: ‘Entrai pela porta estreita porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição (...)’” (p.196). Essa mesma passagem pode ser encontrada no capítulo XVIII do Evangelho, “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”. “Pelo fato de a porta ser estreita, devemos atravessá-la – um de cada vez – completamente sozinhos, acompanhados apenas pelo mundo de nossos pensamentos e conquistas íntimas” (p.196).

É muito fácil seguirmos a aprovação e opinião de outros, porque quando fazemos o que a maioria considera bom, da mesma forma não vamos ter repreensões e contrariedades com essas pessoas. Mas precisamos entender que, mesmo vivendo em comunidade, estamos vivendo essencialmente com nós mesmos e vamos sempre ser responsáveis – devedores e credores – da nossa própria atitude e não das dos outros.

As leis divinas estão escritas em nossa consciência, em nossa alma e, “por voltarmos costumeiramente os olhos para fora, e não para dentro de nós mesmos, é que nunca conseguimos vislumbrar as riquezas do nosso mundo interior” (p.197). Se colocamos muito valor às coisas externas a nós, sejam elas emocionais ou materiais, estamos nos colocando na condição de escravos dessas coisas. Assim, me recordo de uma passagem que me tocou muito do livro “Há dois mil anos”, de Emmanuel, em que o protagonista, Publius Lentulius (o próprio Emmanuel em uma de suas encarnações), sendo um poderoso senador romano à época de Cristo, tem a oportunidade do encontro com o Mestre que lhe diz: “teu reino e teus poderes são bem fracos diante da eternidade”. Penso que o que Cristo estava ensinando a Publius não era uma mera convenção que às vezes tomamos exteriormente como a condenação dos atributos e valores materiais e terrestres pura e simplesmente. O que Cristo quer nos ensinar é que o maior reino que pode existir é o reino das nossas almas – nosso reino interior que não nos é dado nem retirado e, sim conquistado, construído. Escolhendo outros senhores estamos “livremente” optando pela condição de escravos.

Obrigada!



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