sábado, 23 de junho de 2012

Arraial da Casa do Sol


Nosso Arraial acontecerá no dia 30 de junho às 15 horas na Casa do Sol Centro Espírita! Estaremos comemorando também os três anos de fundação da nossa Casa, localizada na Visconde do Herval, 979. Para comemorar, teremos música ao vivo, comes, bebes, brincadeiras e muita alegria por estarmos juntos mais uma vez! Contamos com a sua participação!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Palestra: Solidão



Palestra apresenta em 30/04/2012 por Beatriz Hirt
Ciclo de palestras sobre os livros “As Dores da Alma” e "Os prazeres da alma", de Hammed
           
            Solidão não é o mesmo que estar desacompanhado. Podemos estar sós no meio da multidão. Muitas pessoas passam por momentos em que se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria. Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, prazerosa e trazer alívio emocional, desde que esteja sob controle do indivíduo. Quando ultrapassa o limite do saudável passa a ser um sofrimento e até um sintoma de uma patologia mais séria.
             Para fazer uma analogia, a solidão é para alma o que a dieta é para o corpo: necessária, mas se passar do ponto, pode ser fatal. Não devemos ser “obeso mórbido de agitação”, nem  “anorexo afetivo”.  O alimento da alma são as emoções.
             Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão. É a caracterizada pela carência de comunicação. Não a comunicação superficial, dos gestos ensaiados e das palavras ditadas pelas convenções, mas a real, a verdadeira, a genuína: a dos nossos sentimentos mais profundos. Nos faltam palavras e símbolos. Temos só uma vaga e truncada intuição acerca da natureza e extensão daquilo que nos aflige. Como queremos que os outros compreendam um sentimento que temos, de fato, mas que não entendemos o que é e nem sabemos definir como se manifesta?            Em seu crescimento como indivíduo, o ser humano começa um processo de separação ainda no nascimento, a partir do qual continua a ter uma independência crescente até a idade adulta. Desta forma, sentir-se sozinho pode ser uma emoção saudável e, de fato, a escolha de ficar sozinho pode ser uma experiência enriquecedora.
            Para sofrer com a solidão, entretanto, o indivíduo passa por um estado de profunda separação. Isto pode se manifestar em sentimentos de abandono, rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento (esses são os anorexos afetivos). Se tais sentimentos são prolongados eles podem se tornar debilitantes e bloquear a capacidade do indivíduo de ter um estilo de vida e relacionamentos saudáveis. Se o indivíduo está convencido de que não pode ser amado, isto vai aumentar a experiência de sofrimento e o consequente distanciamento do contato social. A baixa auto-estima pode dar início à desconexão social que pode levar à solidão.
           Sofremos de solidão toda vez que desprezamos as inerentes vocações e naturais tendências de nossa alma. Assim que nos distanciamos do que realmente somos, criamos um autodesprezo, passando, a partir daí, a desenvolver um sentimento de isolamento, mesmo rodeados de pessoas.
          Na autorejeição, esquecemos de perceber a presença de Deus vibrando em nossa alma; logo, anulamos nossa força interior. É como se esquecêssemos a consciência de nós mesmos.
          Uma vez que não identificamos nossa essência, criamos um eu idealizado, de acordo com o que a gente pensa ser bom e adequado.
           Quase todos nós crescemos querendo ser adequados para o mundo, porque acreditamos que não somos suficientemente bons para ser amados pelo que somos. Por isso, procuramos, desesperadamente, igualar-nos a uma imagem que criamos de como deveríamos ser. Ex: jovem que procura sua tribo: patricinha, emo, punk, gótico. Usam roupa igual, cabelo igual, vocabulário igual.
            O ser idealizado é uma fantasia mental. É uma imitação inflexível, construída artificialmente sobre uma combinação de dois básicos comportamentos neuróticos:
a)adotar padrões existenciais super-rígidos, impossíveis de serem atingidos
b) alimentar o orgulho de acreditar-se onipotente, superior e invulnerável. A coexistência desses dois modos de pensar ocasiona frequentes estados de solidão, tristeza habitual e sentimentos mútuos de vazio e aborrecimento na vida afetiva de um casal.
           Para que nossa essência aflore, é preciso abandonar nossa compulsão de fazer-nos seres idealizados, nossa expectativa fantasiosa de perfeição e nosso modelo social de felicidade. Somente assim, exterminamos o clima de pressão, de abandono, de tensão e de solidão que sentimos interiormente, para transportarmo-nos para uma existência de satisfação íntima e para uma indescritível sensação de vitalidade.
          A renúncia de nosso eu idealizado nos dará uma sensação de renascimento e uma atmosfera de liberdade como nunca antes havíamos sentido.
           O amor e o respeito a nós mesmos cria uma atmosfera propícia para identificarmos nossa verdadeira natureza, isto é, nossa identidade de alma, facilitando nosso crescimento espiritual e, porconseguinte, proporcionando-nos alegria de viver.         
           Casais
           O esforço metódico para sustentar essa versão idealizada é responsável por grande parte dos nossos problemas de relacionamento conosco e com os outros. Entre todos os problemas de convivência, o de casais, talvez, seja um dos mais comuns entre as pessoas.
          Todos nós queremos companhia e afeto, mas para desfrutarmos uma união amorosa, madura e equilibrada é preciso, acima de qualquer coisa, respeitar o direito que cada criatura tem de ser ela mesma, sem mudar suas predileções, ideias e ideais. Os traços de personalidade não são futilidades, teimosia ou manias. Cada parceiro tem seus “direitos individuais” de manter sua parcela de privacidade e preferências. Para tanto, o diálogo compreensivo, a renúncia aos próprios caprichos, o compromisso de lealdade são fatores imprescindíveis na vida a dois, que não pode permitir a confusão de “direitos individuais” com direitos individualistas, com vulgaridade, com cobrança e com leviandade.
          Aquele ser idealizado de nós mesmos, agora idealiza o seu parceiro.
          A complexidade maior das dificuldades nos matrimônios talvez seja a não-valorização dos verdadeiros sentimentos, que força um dos parceiros, ou mesmo ambos, a as contrariar sua natureza para satisfazer opressões, intolerâncias e imposições do outro. Ninguém pode ser feliz assim, subordinando-se ao que o cônjuge quer ou decide.
          Questão 697 de "O livro dos espíritos":
          Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana, a indissolubilidade absoluta do casamento?
         “É uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.”
          Declarar de modo geral que o divórcio é sempre errado é tão incorreto quanto assegurar que está sempre certo. Em algumas circunstâncias, a separação é um subterfúgio para uma saída fácil ou um pretexto com que alguém procura esquivar-se das responsabilidades, unicamente.
           Há uniões em que o divórcio é compreensível e razoável, porque a decisão de casar foi tomada sem maturidade, porque são diversos os equívocos e desencontros humanos. Em outros casos, há anos de atitudes de desrespeito e maus-tratos, há os que impedem o desenvolvimento do outro. São variadas as necessidades da alma humana e, muitas vezes, é melhor que os parceiros se decidam pela separação a permanecerem juntos, fazendo da união conjugal uma hipocrisia. Em todas as atitudes e acontecimentos da vida, somente a própria consciência do indivíduo pode fazer o autojulgamento e decidir sobre suas carências e dificuldades da vida a dois. Todos os livros sacros da humanidade têm como máxima ou mandamento o amor. A base de todo compromisso é o amor. O amor enriquece mutuamente as pessoas e é responsável pela riqueza do seu mundo interior. A estrutura do verdadeiro ensino religioso nos deve unir amorosamente uns aos outros e não nos manter unidos pela intimidação, pelo medo do futuro ou pelas convenções sociais.
          O ensino espírita, propagado pelo “O Livro dos Espíritos”, nos faz redescobrir o sentimento de religiosidade inato em cada criatura de Deus.
         O sentido da religião deve consistir na busca da liberdade, no culto da verdade e na clara distinção entre o passageiro e o permanente. Estar com alguém por temor religioso é diferente de estar com alguém por amor. Somente o amor tem significado perante a Divina Providência.
           Lembremo-nos de que a solidão aparece, quando negamos nossos sentimentos e ignoramos nossas experiências interiores. Essa forma comportamental tende a fazer-nos ver as coisas do jeito como queremos ver, ou seja, como nos é conveniente, em vez de vê-las como realmente são. Assim é que distorcemos nossa realidade. Não rejeitemos o que de fato sentimos. Isso não quer dizer viver com liberdade indiscriminada e sem controle, mas sim reconhecer o devido lugar que corresponda aos nossos sentimentos, sem ignorá-los, nem tampouco deixá-los serem donos de nossa vida. Se devemos permanecer ou não ao lado de alguém, é decisão que se deve tomar com espontaneidade, harmonia e liberdade, sem mesclas de medo ou imposições.
          * Almas gêmeas
          As questões 298 e 299 de "O livro dos espíritos" deixam bem claro que almas gêmeas ou metades eternas não existem, porque a evolução é individual. O que existe são espíritos afins e a afinidade pode esfriar por alguns séculos, se um dos espíritos ficar estacionário. Não adianta procurar aoutra metade da maça, porque ela não existe. Não existem meias pessoas.
          Causas comuns - patologia
         As pessoas podem sentir solidão por muitas razões e muitos eventos da vida estão associados a ela. A falta de amizades durante a infância e adolescência ou a falta de pessoas interessantes podem desencadear não só a solidão, mas também a depressão e o celibato involuntário (a pessoa até quer um companheiro, mas como não se relaciona com ninguém, o companheiro não aparece. Ninguém aparece). Ao mesmo tempo, a solidão pode ser um sintoma de um outro problema social ou psicológico, que deveria ser tratado.
        Pode ser um período após uma separação, como o fim de um casamento, a perda de um ente querido, a saída dos filhos de casa. Nesses casos, a solidão pode ocorrer tanto por causa da perda do outro indivíduo quanto pelo afastamento do círculo social do qual ambos faziam parte, causado pela tristeza associada ao evento.
         Ex: Um texto na internet sobre solidão cheio de comentários suicidas, de desejo de morte. Isso precisa ser tratado.
           Tratamento
           Existem muitas formas diferentes para tratar a solidão, o isolamento social e a depressão. O primeiro passo, e o mais frequentemente recomendado, é a terapia. Alguns recomendam terapia em grupo ou antidepressivos.
           Abordagens alternativas ou complementares com exercícios físicos, dieta, hipnose, homeopatia, acupuntura, fitoterapia, entre outros, também apresentam bons resultados.
           Um outro tratamento, tanto para depressão quanto para a solidão, é a terapia de animais de estimação. Além de atenuar a sensação de solidão (mesmo porque isto pode também levar à socialização com outros donos de animais semelhantes), ter um animal de estimação diminui a ansiedade e, consequentemente, os níveis de stress no organismo. Promove a troca de afeto, propicia compromisso com o outro ser.
         Um trabalho voluntário, um grupo de dança ou de literatura...
        Esses são alguns meios para auxiliar o solitário a se reconectar com a sociedade. O principal é a decisão íntima de se expor, se dar a conhecer e se interessar pelos outros. E pra nós, o melhor fortificante é a oração. Pedir a força necessária para quebrar as barreiras internas. Podemos ter a certeza que é isso que nosso Pai amoroso deseja para nós.
      Algumas questões do Livro dos Espíritos, cap. 7 Lei da Sociedade:
      - Vida social é uma obrigação natural?
        Sim, Deus fez o homem para viver em sociedade. “Sozinho, nem minhoca”.
       - O isolamento absoluto é contrário à lei natural?
       Sim, todos devem concorrer para o progresso mútuo.
      - O isolamento absoluto é condenável, mesmo que o homem encontre nele sua satisfação?
          Satisfação de egoísta. Deus não pode ter por agradável uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém.
         - E os que vivem em reclusão absoluta para fugir do contato nocivo do mundo? Ex: Num monastério, rezando pela humanidade.
          Duplo egoísmo.
         - E os que se isolam do mundo para se devotar ao alívio dos sofredores? Ex: Irmãs que cuidam dos doentes ou órfãos.
          Duplo mérito. Renunciam aos prazeres materiais e fazem o bem cumprindo a lei do trabalho.
         - E os que procuram um retiro de tranqüilidade para a execução de algum trabalho?
          Eles não se isolam da sociedade uma vez que trabalham para ela.
          Ex: atelier do artista, o laboratório de pesquisa, estação espacial.
         *Nenhum homem possui todos os conhecimentos e todas as capacidades. Pelas relações sociais é que se complementam uns aos outros para assegurar seu bem-estar e progredir: é por isso que somos feitos para viver em sociedade e não isolados.
         Lado positivo:
         Nem sempre a solidão pode ser encarada como dor ou doença. É, em muitas ocasiões, períodos de preparação, tempos de crescimento, convites da vida ao amadurecimento.
           É justamente nas “épocas de solidão” que conseguimos a motivação necessária para estabelecer a verdade sobre esse fato.
           Na solidão, é que encontramos sanidade para nosso mundo interior, respostas seguras para nossos caminhos incertos e nutrição vitalizante para os labores que enfrentamos em nossa viagem terrena. Não me refiro à “tristeza de estar só”, mas sim, necessariamente, à “quietude íntima”, tão importante e saudável para que façamos um trabalho de autoconsciência, valorizando as nuances de nossa vida interior.
           Muitos indivíduos vivem dentro de um ciclo diário estafante. Realizam suas atividades num ambiente de competitividade, agitação, pressa e rivalidade, vivendo em constante tensão psicológica e, por consequência, alterando suas funções fisiológicas. Por viverem num estado de cansaço e desgaste contínuos, não conseguem fazer uma real interação entre o meio ambiente e seu mundo interno, o que ocasiona sérios problemas de convivência e inúmeros conflitos pessoais. 
          Nem sempre é possível abandonarmos a vida alvoroçada, os ruídos e as músicas estridentes, talvez seja até mesmo inviável; mas é perfeitamente realizável dedicarmos algum tempo à solidão, retirando-nos para momentos de reflexão. Nos instantes de silêncio, exercitamos o aprendizado que nos levará a abrir um canal receptivo à Consciência Divina. É nesse momento que ficamos cientes de que realmente não estamos sozinhos e que podemos entrar em contato com a voz da consciência. 
          A voz de Deus, por assim dizer, começará a “falar em nós”. Ex: meditação
          Muita gente cria uma mente agitada por temer não haver nada dentro delas que lhes dê proteção, apoio e segurança. Como se fossem uma casca que precisa exclusivamente de sustentação exterior; por isso, continuam ocupando a casa mental ansiosamente, obstruindo seu acesso à luz espiritual. Esses são os “obesos mórbidos de agitação”.
           A mente pode ser uma ajuda efetiva, ou mesmo um obstáculo ferrenho na escolha da melhor direção para atingimos o amadurecimento íntimo. A crença em nossa limitação é que faz com que restrinjamos nossa mente. Isso se agrava quando envolvemo-la no burburinho de vozes, no tumulto e na agitação do cotidiano, passando assim a não avaliarmos corretamente seu verdadeiro potencial.
          São muitos os caminhos de Deus, e a solidão pode ser um deles.
          Jesus, constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação de alma somente é possível na “privacidade da solidão”. O Cristo Amoroso sabia que, quando houvesse silêncio no coração e no intelecto, se estabeleceriam as bases seguras da relação entre a criatura e o Criador, proporcionando a percepção de que somos unos com a Vida e unos com todos os seres. Parece contraditório, mas não o é: ficar sozinho para perceber a consciência cósmica em nós.
          A Espiritualidade Maior entende que, nos retiros de tranquilidade, criamos uma sustentação interior, que nos permite sintonizar com as leis divinas e com os valores reais da consciência cristã.
         Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.
         Ninguém é capaz de seguir sua verdadeira estrada existencial, se não refletir sobre sua essência. Não encontraremos o caminho de que verdadeiramente necessitamos, se nós mesmos não o buscarmos, usando nossos inerentes recursos da alma para perceber as inarticuladas orientações divinas em nós. Somente cada um pode interpretar as razões da Vida em si mesmo.
         Adotemos o aprendizado com o Senhor Jesus, exemplificado no Horto das Oliveiras: retiremo-nos para um lugar à parte e cultivemos os interesses de nossa alma.
         Se não encontrarmos um recanto externo que facilite a meditação, nem alguma paisagem mais afastada junto à Natureza, onde possamos repousar da inquietação da multidão, mesmo assim poderemos penetrar o nosso santuário íntimo. Sigamos o Mestre, recolhendo-nos na solidão e no silêncio do templo da alma, onde exclusivamente encontraremos as reais concepções do amor e da justiça, da felicidade e da paz, a que todos temos direito por Paternidade Divina.