quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Palestra: Carma e Parentela



Carma e parentela
 Palestra realizada por Flávia Cavalli na Casa do Sol Centro Espírita em 22.10.2012 baseada no livro "Renovando Atitudes" de Hammed.

        “A união e a afeição que existem entre os parentes são indício da simpatia anterior que os aproximou: também se diz, falando de uma pessoa cujo caráter; gostos e inclinações não têm nenhuma semelhança com os de seus parentes, que ela não é da família...”
(Capítulo 4, item 19.)

CARMA
 Primeiramente, é muito importante entender o que seja "carma". Carma nem sempre é dor e sim ação. A realização do ser eterno, através de milênios é o que chamamos "carma".
Carma é um termo sânscrito para designar a “ação”, “lei da causa e efeito” ou “lei da causa ética”. Não tem a função de castigar ou recompensar. Sugere que a reencarnação tem a finalidade de equilibrar as boas e más ações cometidas em vidas regressas e, dessa forma, fortalecer o espírito e elevar a alma. Ele não pode ser visto como uma apologia ao sofrimento, pois é basicamente ação e reação. O ocidental associou o carma com insatisfação pessoal, culpa e a punição cristã do inferno.

O médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco, num seminário sobre o perdão e o auto-perdão, disse: "Nós não somos culpados, nem pecadores. Somos responsáveis. Quando somos responsáveis, assumimos as conseqüências dos nossos atos. E como é inevitável, nós não somos punidos, somos convidados à responsabilidade. E para responsabilidade o processo penalógico não é punitivo, é reparador.”

Ao entender o sentido do carma, muitos começam ter uma vida mais serena, evitando atritos e desentendimentos com as pessoas. Porém, uma pessoa que fica remoendo os problemas, não faz o papel de apaziguar, sempre discute com os outros e não consegue perdoar o erro dos mais próximos, se distancia do bom carma.

Em síntese, o carma é negativo e positivo em relação ao nosso destino, já que é uma lei natural. O resultado final reflete na correspondência exata entre a causa e o efeito dos seus atos. Portanto, somos responsáveis por um bom ou mau carma, um bom ou mau destino.

E PORQUE NÃO NOS LEMBRAMOS DE VIDAS PASSADAS
Os céticos rebatem a idéia do carma, pois uma vez que não nos lembramos de nossa vida pregressa, entendem que qualquer aprendizado seria nulo.

Mas qual o porquê do esquecimento? A natureza é sábia e sempre há razões para tudo. Pense como seria se nos recordássemos de todas as ocorrências dolorosas ou terríveis de que fomos protagonistas; se nos recordássemos de todo o mal que já fizemos e recebemos; dos ódios e dos amores. Não acha que nosso psiquismo poderia implodir com toda essa carga? Se nos lembrássemos de nossas vidas passadas, como poderíamos receber por filho alguém a quem prejudicamos ou que nos fez sofrer? Com o esquecimento, porém, os ódios se acabam nos braços de pai e mãe.

Mas com a bênção do esquecimento, todo o material ligado a uma encarnação fica arquivado no inconsciente, permitindo que uma nova existência seja uma oportunidade inteiramente nova; um recomeço, onde o espírito não sofra as pressões das lembranças das vidas anteriores, a fim de que possa reconstruir-se mais livremente.

Só não pensem que a morte transforma a criatura. Quem é mau aqui no nosso espaço físico, continua a ser mau depois da morte; quem é avarento, orgulhoso ou imoral, continua do mesmo jeito no mundo espiritual. Ninguém vira santo porque morreu.

Todas suas aptidões, no entanto, seus valores morais e outras conquistas individuais permanecem latentes, dando continuidade a si mesmo e, conforme a necessidade, ele pode ter acesso a algumas lembranças, durante o sono, que favorecerão sua conduta, ajudando-o a aceitar suas provações.

A REENCARNAÇÃO
 A reencarnação é a única explicação plausível para as inúmeras diferenças existentes entre as pessoas, desde que se acredite na existência de um Deus justo, responsável pelas leis que regem a vida.

Ela reflete a sabedoria e equilíbrio dos mecanismos da evolução. Os sofrimentos, as dificuldades e as lutas da vida são os grandes professores que nos ensinam a viver e a conviver.
A convivência terrena não passa de um grande depurador e disciplinador. As encarnações têm o mesmo efeito de uma terapia, só que divina. 
Quem foi mau filho poderá renascer como criança abandonada, para aprender a dar valor à família;

Quem foi orgulhoso poderá vir em condições de pobreza ou de subalternidade, para aprender a ser mais humilde;

Quem foi preguiçoso talvez volte à Terra sem saúde, desejando trabalhar, mas sem condições físicas para tanto;

Quem usou mal a língua, “levantando falso”, estimulando à imoralidade, a violência, a maldade ou a descrença em Deus e na vida, poderá renascer com problemas de fala ou mesmo completamente mudo por causa do tipo de energia que gerou e acumulou nos órgãos da fala, e assim por diante.

As famílias são montadas na Terra, mediante um planejamento reencarnatório e esse planejamento obedece à justiça divina. Essa justiça irá atuar de acordo com a evolução de cada um. O objetivo, na formação de um grupo familiar, é o reajuste, visando o crescimento interior de todos.
Por isso os espíritos muitas vezes reencarnam nos ambientes e/ou famílias onde viveram. É a oportunidade que a Lei Maior lhes dá para refazerem seus caminhos, corrigirem faltas e consertarem o mal que praticaram no passado.

 CARMA E PARENTELA
- É terrível, mas compreensível, um estranho tentar violentar uma menina. Mas quando esse ato abominável parte de um pai que tem o papel institucional de cuidar da filha, isso ultrapassa qualquer designação que as palavras possam nos fornecer.
- E quando um irmão mais velho se torna o algoz, a fonte de sofrimento do outro irmão?
- E quando a mãe deixa de ser a referência, o porto seguro dos filhos para justamente colocá-los em risco moral e físico?
- Ou quando um filho que vive acusando seu pai por todos os males que o afligem, afligiram e o afligirão, mas não deixa de ser ele mesmo o algoz maior de seus filhos?

ORIGEM PRIMITIVA DAS TRANSGRESSÕES BÁRBARAS
De onde vêm essas transgressões bárbaras que tanto geram traumas, sofrimento e fraturas psíquicas e espirituais?
São várias as origens, sendo a principal as emoções primitivas, de quando as regras e “leis” morais ainda não tinham sido estabelecidas. Pode parece impossível, mas ainda temos em nós registros e programas dos primitivos que fomos, e de comportamentos que usamos para viver e sobreviver quando éramos esses seres pré-culturais.
Infelizmente nosso cérebro funciona como as camadas de um sítio arqueológico, quanto mais fundo se cava, mais antigos são os registros das culturas que ali estiveram.
A grande diferença é que nos sítios arqueológicos os rastros dessas culturas estão inativos, mas no cérebro/mente estão ou podem ser ativados.
Desta forma, pessoas que não conseguem desenvolver seu espírito e que a despeito da evolução da sociedade como um todo, ainda carregam esta “programação bárbara” são as mais propensas a encenar as maiores perversões familiares. Por isso temos “maníacos do parque”, pais e padrastos estupradores, mães que molestam e ferem os filhos e vai por aí.

 BOA NOTICIA
Mas a boa noticia é que não é só de barra pesada que vivem os maus carmas de família, ao contrário essas são as exceções.
A maioria dos conflitos familiares é composta de sentimentos mais brandos, porém mais mesquinhos. São rancores, invejas, mágoas por algo feito ou não feito, desentendimentos incompreensíveis, ofensas menores, mas que ganham uma dimensão superestimada, ou grandes ofensas cujo fato gerador foi fútil, desproporcional.

PORQUE A FAMILIA?
Por trás disso tudo estão pautas não resolvidas na vida passada, assuntos que ficaram sem um fecho satisfatório, ou porque a morte veio impedir o acerto de contas ou por falta de meios para resolver as pendências.
O que na linguagem policial se chama de “desinteligência” quando acontece em família acaba sendo preservado pelo circuito interno dos vínculos de sangue. Se tenho uma desinteligência no trânsito de uma grande cidade, as chances de eu “trombar” novamente com o sujeito são remotas, mas se isso acontece na família, fica aprisionado lá no circuito e será preservada pelos vínculos “familiares.”
A família é para muitos o porto seguro, o último refúgio, a derradeira esperança na luta contra a indigência e a solidão. A família, porém, é a corrente que mantém atados os espíritos que se ferem uns aos outros e que por absoluta ignorância perpetuam esses scripts nefastos vida após vida.
A família é um universo fechado onde as emoções e sentimentos reverberam com muito maior intensidade, por isso quando Jesus reunido com seus discípulos recebeu a notícia de que sua mãe e irmãos estavam do lado de fora aguardando para vê-lo, perguntou: “Minha mãe? Quem é minha mãe? Meus irmãos? Vocês são minha mãe e meus irmãos!” sua intenção não foi a da negação destes vínculos, mas de demonstrar que somos filhos de todas as mães e irmãos de todos os homens.
Logo, se todo mundo é meu irmão, então posso esperar fraternidade de todos, posso esperar a cumplicidade própria de irmãos, mas também posso esperar traições, e “crocodilagens” de qualquer um como é típico de alguns irmãos, lembrando como exemplo o ocorrido com Caim e Abel.
Jesus sabia que nada há de mais preservador e propagador do carma que as relações e pendências familiares.
Grande parte da carga de sofrimento que carregamos tem etiqueta com sobrenome da família.
As relações familiares são de longe a maior fonte primária de ódios, mágoas e rancores diversos, geradoras de vinganças, acerto de contas raivosas e é claro encadeadoras de carma, mas também, um dos maiores fatores de desenvolvimento sociais da humanidade, e sem ela, talvez não tivéssemos chegado até aqui.
O conhecimento da reencarnação nos orienta quanto às conseqüências dos nossos atos e aí relembramos as palavras do Cristo: "Cada um colhe aquilo que semeia". A mãe amorosa de hoje nem sempre o foi ontem. Não existindo acaso na Lei, os reencontros obedecem a critérios sábios.

E QUAL A SOLUÇÃO?
Para ter um bom resultado nesta empreitada da vida, o arrependimento e o perdão devem ser sinceros. Não se auto-responsabilizar por feitos e atitudes no presente, inocentando-se e lançando desculpas pelos desatinos do passado, é assumir a condição de injustiçado, ou mesmo, de vítima. É como afirmar que a Divina Providência cometeu para com a tua existência uma falta, fazendo-te renascer em ambiente não correspondente ao teu desenvolvimento espiritual, o que logicamente é um enorme absurdo.
Quem falhou deve pedir desculpas e, quem foi prejudicado, aceitar verdadeiramente o perdão. “Perdoai aos vossos inimigos”, ensinou Jesus. Ressentimento, condenação, mágoa, raiva ou o desejo de ver alguém punido, são coisas que apodrecem a alma, portanto, perdoe. Isso melhora as formas-pensamento de ambos, contribui para uma evolução, colocando fim a uma ação viciosa.
E uma das chaves ocultas para dissolver essa corrente é tirar o peso dos papéis, não julgar nossos familiares pelos papéis que a sociedade determinou para eles. Isso não resolve o problema de um filho que tortura os pais idosos, nem do irmão mau caráter que rouba o resto da família.
Mas ao despi-los dos rótulos familiares e das expectativas dos seus papéis, ficam mais verdadeiros, apenas homens, mulheres agentes ignorantes da destruição. Assim fica mais fácil lidar com eles, dissolvendo-os no imenso oceano das fraquezas humanas.

 FINAL – MENSAGEM DE CHICO
         Não são situações de vidas passadas que te complicam os relacionamentos afetivos, e sim a continuidade dos velhos modos de pensar, das crenças incoerentes e da permanência em doentios pontos de vista de onipotência.

 Tem uma mensagem de Chico Xavier que diz: “Nasceste no lar que precisavas, Vestiste o corpo físico que merecias, Moras onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com teu adiantamento. Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas.”