quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Palestra: O amor que eu tenho é o que dou






Palestra realizada por Rita Pereira Barboza, na Casa do Sol Centro Espírita, inspirada no capítulo homônimo do livro “Renovando Atitudes” de Hammed.

“Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos sem amor eu nada seria”. Carta de Paulo aos Coríntios, v.13,1 Bíblia

O amor é o sentimento mais nobre que o homem pode ter. Sabemos e sentimos que o caminho principal para sermos pessoas melhores é o do amor e da caridade, que é uma expressão do amor. Queremos ser pessoas caridosas, que amam incondicional e indistintamente, sem esperar nada em troca, mas sabemos também o quanto este caminho é longo e requer muito aprendizado.
Hammed irá recortar do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XI – Amar ao próximo como a si mesmo, item 8, a seguinte orientação: “No seu início, o homem não tem senão instintos; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas este sol interior...”
Nessa passagem fica clara a condição evolutiva do amor, sendo um sentimento a ser desenvolvido por cada ser ao longo de suas experiências encarnatórias. Então, precisamos aprender a amar, exercitar o amor, descobrir em nós a capacidade de amar como um processo que requer trabalho sobre nós mesmos e não algo que está pronto em nossos corações. Quanto mais experimentarmos e tentarmos amar, mais ampliaremos e aperfeiçoaremos essa capacidade.
Também é errando que se aprende. Diversas vezes expressamos em nossos comportamentos atitudes que confundimos com amor, mas que nada mais são do que vaidade, egoísmo, orgulho. Hammed irá elencar algumas dessas expressões comportamentais:
- quando contamos vantagens e nos enchemos de louros pensando que esta é uma condição para receber o amor de alguém
- quando abrimos mão de nossos gostos e desejos em favor do outro, perdendo o sentido das nossas próprias vidas
- quando delegamos o controle de nossas vidas a outra pessoa, pensando receber amor em troca de passividade
- quando utilizamos na mentira para encobrir conflitos e defeitos
- quando somos submissos e deixamos de dizer “não” querendo receber com isso carinho e estima.
Esses são alguns exemplos de atitudes que tomamos pensando que estamos “amando”, mas que apenas refletem as nossas dificuldades e imperfeições na matéria “amor”. Afinal, como nos diz Hammed: “Somente se dá aquilo que se possui”. Ele completa: “Como, pois, exigir amor de alguém que ainda não sabe amar?”. Então, para podermos dar amor aos outros, precisamos aprender a amar, precisamos “possuir” a capacidade de amar. Assim, o amor que eu tenho, será o amor que eu dou.
Vamos prestar atenção a esse mandamento divino que diz: “Amar ao próximo como a si mesmo”. Se formos obedecer realmente a esse mandamento, e amar aos outros da mesma forma com que nos amamos, o que será que estaremos oferecendo? Nos amamos realmente? Ou tratamo-nos como seres inferiores, desmerecedores de qualquer afeto, incapazes de brilhar com nossa luz própria, dependendo sempre da estima alheia para nos fortalecer? Se continuarmos a tratar a nós mesmos com desamor sempre desenvolveremos com nosso próximo uma relação de comparação (como nos orientou Luís em sua palestra), de inferioridade ou superioridade, ou de superficialidade, esperando do outro o que nós devemos dar a nós mesmos em primeiro lugar: respeito, compreensão, afeto, amor.
Considerando o amor como um processo evolutivo podemos entender que ao tempo de Jesus, falar de amor era simplesmente falar de domínio dos instintos. Jesus preocupava-se que o povo diminuísse a hostilidade, a crueldade e a violência inatas à sua condição cultural e evolutiva. Amar seria simplesmente não odiar, não maltratar, não vingar-se, etc. Ao tempo de Kardec, do Evangelho segundo o Espiritismo (séc.XIX) foi possível falar sobre a diminuição do egoísmo em prol da compaixão e da caridade – o sacrifício necessário não envolveria mais o sangue como no tempo dos mártires, mas sim o espírito, o sentimento. Assim, amar passa a ser perdoar, querer e fazer o bem aos inimigos, compreender, ajudar aos necessitados, etc. Estamos vivendo uma época de desenvolvimento da nossa própria consciência, de percebermos que as mudanças precisam partir de nós mesmos, de nossas crenças e atitudes; precisamos curar nossas almas. Os estudos contemporâneos têm demonstrado que a maior parte das doenças tem origem em males provocados por nós mesmos sobre o nosso corpo e espírito através de comportamentos e pensamentos. Portanto, penso que é chegado o momento de debruçarmo-nos sobre nós mesmos e refinarmos a nossa alma, podendo, ao encontro com o próximo a que se refere Jesus, termos uma melhor qualidade de amor a oferecer, uma verdadeira caridade e compaixão.
O mandamento diz: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Mas o que é amar a Deus? Para mim, amar a Deus significa amar a Vida, estar em uma relação harmônica, de gratidão e integridade com o Universo. É acordar pela manhã e sentir-se parte de uma grande obra AMOR. Sentir-se pleno do amor de Deus. Sendo assim, poderemos amar ao nosso próximo como a nós mesmos, porque, afinal, somos todos fios de uma grande teia divina.
Nesse mesmo capítulo do Evangelho, os espíritos de luz nos orientam repetidamente: “Amai bastante, afim de serdes amados”. Entendendo a dimensão e a importância do amor, então, fui em busca de possibilidades de exercitarmos esse amor em nossas vidas, afim de aprimorarmos esse sentimento em nosso íntimo.
Temos estudado em nosso curso das sextas-feiras, chamado “Consciência espírita”, os benefícios da meditação e do relaxamento na busca do autoconhecimento e transformação interior. Sendo assim, lembrei-me de uma meditação ativa que conheci alguns dias atrás, chamada “Meditação do coração”. Foi-me dito tratar-se de uma meditação que exercita a prática de dar limites com amor. Gostei muito. Como é uma meditação que requer uma atividade corporal, bem como espaço físico, tempo e uma orientação precisa, resolvi trazer aqui apenas os seus princípios, que busquei estudar para nos auxiliar no entendimento do exercício do amor.
Ao estudar, descobri que esta é uma meditação “sufi”. E o que é um sufi? O sufismo é uma corrente mística muito antiga, sem data e origem precisa. Uma das versões sobre o início do Sufismo remonta aos indivíduos que surgiram depois da morte do profeta Maomé. Estes indivíduos se retiraram para o deserto ou áreas de menor evidência quando se iniciaram as disputas pelas sucessões dos Califas. O sufismo é erroneamente identificado com a prática islâmica, mas encontra eco em todas as religiões por ter como objetivo final a comunhão do homem com Deus. De acordo com o livro "Os Sufis", de Idries Shah “os sufis sentem-se à vontade em todas as religiões: exatamente como os ‘pedreiros-livres e aceitos’, abrem diante de si, em sua loja, qualquer livro sagrado - seja a Bíblia, seja o Corão, seja a Torá - aceito pelo Estado temporal”.
No site Universo Místico encontrei a definição de que “em termos gerais, o Sufi é todo aquele indivíduo que acredita que é possível ter uma experiência direta com Deus e que está preparado para sair de sua vida rotineira para se colocar debaixo das condições e meios que lhe permitam chegar a este objetivo. Neste contexto, o Sufi é considerado como o protótipo de todo místico que busca a União” (Uma boa definição para um espírita também). Interessante observar que o Sufi não é ensinado, senão orientado a descobrir os caminhos por sua própria experiência, o que também foi um método pedagógico utilizado e reforçado por Allan Kardec à época da codificação do espiritismo.
E qual a principal orientação Sufi? O Amor. Com o coração imerso no Amor, o sufi abandona o seu apego ao mundo para unir-se a Deus. Isso acontece sem que, necessariamente, deva-se abandonar o mundo, ou afastar-se da sociedade. Afinal, não haveria sentido em ensinar a Unidade rejeitando uma parte da expressão do Absoluto. Como bem resume um ditado: “O sufi é aquele que está no mundo, mas não pertence a ele.”
A meditação sufi do coração foi resgatada para o ocidente pelo mestre indiano Osho juntamente com Krishnamurti, e é feita com um estímulo musical, através de um CD que possui 6 faixas, compreendendo cada um dos 6 estágios da meditação que tem a duração de 47 minutos. Além dessa meditação específica, ao estudar sobre os Sufi, encontrei algumas orientações sobre como meditar usando o Amor que podem ser feitas independentemente, desde que o corpo esteja relaxado e a mente concentrada. Então gostaria de propor uma orientação específica nesse momento para experimentarmos o “meditar utilizando o amor”.
Peço a todos que fechem os olhos enquanto eu vou ler calmamente a orientação para essa breve meditação. O primeiro estágio nesta meditação é evocar o sentimento do amor, que ativa o chakra do coração. Isso pode ser feito de várias maneiras, a mais simples sendo pensar em alguém que se ama. Pode ser Deus, o grande Amor. Mas geralmente no começo Deus é mais uma idéia do que uma realidade viva dentro do coração, e é mais fácil pensar em alguém que se ama, um(a) namorado(a), um(a) amigo(a). Vamos então evocar esse sentimento em nosso coração.
O amor tem muitas qualidades diferentes. Para alguns o sentimento do amor é um calor, ou uma doçura, uma suavidade ou maciez, enquanto para outros tem o sentimento da paz, tranquilidade ou do silêncio. O amor também pode vir como uma dor, uma mágoa no coração, uma sensação de perda. Seja como vier, nós mergulhamos nesse sentimento; nos colocamos por inteiro no amor dentro do coração.
Quando nós invocamos este sentimento de amor, os pensamentos vão vir, entrar em nossa mente — o que fizemos ontem, o que vamos fazer amanhã. As memórias flutuam, imagens aparecem perante os olhos da mente. Temos que imaginar que estamos pegando cada pensamento, cada imagem e sentimento, e afogamo-lo, fundindo-o no sentimento de amor.
Cada sentimento, especialmente o sentimento de amor, é muito mais dinâmico que o processo de pensar, por isso se fizemos a prática bem, com a concentração impecável, todos os pensamentos desaparecem. Não sobra nada. A mente fica vazia.”
Então vamos fazer, cada um ao seu tempo, esse exercício – de entregar cada pensamento e imagem que vier à mente para esse fluido de amor, mergulhá-los no sentimento de amor.
Enquanto ainda estão imersos nesse exercício, gostaria de encerrar a palestra de hoje – podem seguir com os olhos fechados – lendo uma poesia Sufi que encontrei durante esse estudo que tem sintonia com o que viemos buscando aqui no Centro Espírita Casa do Sol.

Eu desejo ir para longe,
Centenas de milhas da mente.
Desejo me libertar do bom e do mal.
Quanta beleza por trás dessa cortina!
*
Existe uma alma dentro de sua alma.
Busque por ela.
Existe uma jóia na montanha que é seu corpo.
Olhe para a mina que contém essa jóia.
Ó sufi andarilho
Busque dentro de você e não fora.

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