Palestra realizada por Rita Pereira Barboza, na Casa do Sol Centro Espírita, inspirada no capítulo homônimo do livro “Renovando Atitudes” de Hammed.
“Ainda que
eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos sem amor eu nada
seria”. Carta de Paulo aos Coríntios, v.13,1
Bíblia
O amor é o sentimento mais nobre que o homem pode ter. Sabemos e
sentimos que o caminho principal para sermos pessoas melhores é o do amor e da
caridade, que é uma expressão do amor. Queremos ser pessoas caridosas, que amam
incondicional e indistintamente, sem esperar nada em troca, mas sabemos também
o quanto este caminho é longo e requer muito aprendizado.
Hammed irá recortar do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XI – Amar
ao próximo como a si mesmo, item 8,
a seguinte orientação: “No seu início, o homem não tem
senão instintos; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto
delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas
este sol interior...”
Nessa passagem fica clara a condição evolutiva do amor, sendo um
sentimento a ser desenvolvido por cada ser ao longo de suas experiências
encarnatórias. Então, precisamos aprender a amar, exercitar o amor, descobrir
em nós a capacidade de amar como um processo que requer trabalho sobre nós
mesmos e não algo que está pronto em nossos corações. Quanto mais
experimentarmos e tentarmos amar, mais ampliaremos e aperfeiçoaremos essa
capacidade.
Também é errando que se aprende. Diversas vezes expressamos em nossos
comportamentos atitudes que confundimos com amor, mas que nada mais são do que
vaidade, egoísmo, orgulho. Hammed irá elencar algumas dessas expressões
comportamentais:
- quando contamos vantagens e nos enchemos de louros pensando que esta
é uma condição para receber o amor de alguém
- quando abrimos mão de nossos gostos e desejos em favor do outro,
perdendo o sentido das nossas próprias vidas
- quando delegamos o controle de nossas vidas a outra pessoa, pensando
receber amor em troca de passividade
- quando utilizamos na mentira para encobrir conflitos e defeitos
- quando somos submissos e deixamos de dizer “não” querendo receber com
isso carinho e estima.
Esses são alguns exemplos de atitudes que tomamos pensando que estamos
“amando”, mas que apenas refletem as nossas dificuldades e imperfeições na
matéria “amor”. Afinal, como nos diz Hammed: “Somente se dá aquilo que se
possui”. Ele completa: “Como, pois, exigir amor de alguém que ainda não sabe
amar?”. Então, para podermos dar amor aos outros, precisamos aprender a amar,
precisamos “possuir” a capacidade de amar. Assim, o amor que eu tenho, será o
amor que eu dou.
Vamos prestar atenção a esse mandamento divino que diz: “Amar ao
próximo como a si mesmo”. Se formos obedecer realmente a esse mandamento, e
amar aos outros da mesma forma com que nos amamos, o que será que estaremos
oferecendo? Nos amamos realmente? Ou tratamo-nos como seres inferiores,
desmerecedores de qualquer afeto, incapazes de brilhar com nossa luz própria,
dependendo sempre da estima alheia para nos fortalecer? Se continuarmos a
tratar a nós mesmos com desamor sempre desenvolveremos com nosso próximo uma
relação de comparação (como nos orientou Luís em sua palestra), de
inferioridade ou superioridade, ou de superficialidade, esperando do outro o
que nós devemos dar a nós mesmos em primeiro lugar: respeito, compreensão,
afeto, amor.
Considerando o amor como um processo evolutivo podemos entender que ao
tempo de Jesus, falar de amor era simplesmente falar de domínio dos instintos.
Jesus preocupava-se que o povo diminuísse a hostilidade, a crueldade e a
violência inatas à sua condição cultural e evolutiva. Amar seria simplesmente
não odiar, não maltratar, não vingar-se, etc. Ao tempo de Kardec, do Evangelho
segundo o Espiritismo (séc.XIX) foi possível falar sobre a diminuição do
egoísmo em prol da compaixão e da caridade – o sacrifício necessário não
envolveria mais o sangue como no tempo dos mártires, mas sim o espírito, o
sentimento. Assim, amar passa a ser perdoar, querer e fazer o bem aos inimigos,
compreender, ajudar aos necessitados, etc. Estamos vivendo uma época de
desenvolvimento da nossa própria consciência, de percebermos que as mudanças
precisam partir de nós mesmos, de nossas crenças e atitudes; precisamos curar
nossas almas. Os estudos contemporâneos têm demonstrado que a maior parte das
doenças tem origem em males provocados por nós mesmos sobre o nosso corpo e
espírito através de comportamentos e pensamentos. Portanto, penso que é chegado
o momento de debruçarmo-nos sobre nós mesmos e refinarmos a nossa alma,
podendo, ao encontro com o próximo a que se refere Jesus, termos uma melhor
qualidade de amor a oferecer, uma verdadeira caridade e compaixão.
O mandamento diz: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a
si mesmo. Mas o que é amar a Deus? Para mim, amar a Deus significa amar a Vida,
estar em uma relação harmônica, de gratidão e integridade com o Universo. É
acordar pela manhã e sentir-se parte de uma grande obra AMOR. Sentir-se pleno
do amor de Deus. Sendo assim, poderemos amar ao nosso próximo como a nós
mesmos, porque, afinal, somos todos fios de uma grande teia divina.
Nesse mesmo capítulo do Evangelho, os espíritos de luz nos orientam
repetidamente: “Amai bastante, afim de serdes amados”. Entendendo a dimensão e
a importância do amor, então, fui em busca de possibilidades de exercitarmos
esse amor em nossas vidas, afim de aprimorarmos esse sentimento em nosso
íntimo.
Temos estudado em nosso curso das
sextas-feiras, chamado “Consciência espírita”, os benefícios da meditação e do
relaxamento na busca do autoconhecimento e transformação interior. Sendo assim,
lembrei-me de uma meditação ativa que conheci alguns dias atrás, chamada
“Meditação do coração”. Foi-me dito tratar-se de uma meditação que exercita a
prática de dar limites com amor. Gostei muito. Como é uma meditação que requer
uma atividade corporal, bem como espaço físico, tempo e uma orientação precisa,
resolvi trazer aqui apenas os seus princípios, que busquei estudar para nos
auxiliar no entendimento do exercício do amor.
Ao estudar, descobri que esta é uma meditação
“sufi”. E o que é um sufi? O sufismo é uma corrente mística muito antiga, sem
data e origem precisa. Uma das versões sobre o início
do Sufismo remonta aos indivíduos que surgiram depois da morte do profeta
Maomé. Estes indivíduos se retiraram para o deserto ou áreas de menor evidência
quando se iniciaram as disputas pelas sucessões dos Califas. O sufismo é
erroneamente identificado com a prática islâmica, mas encontra eco em todas as
religiões por ter como objetivo final a comunhão do homem com Deus. De acordo
com o livro "Os Sufis", de Idries Shah
“os sufis sentem-se à vontade em todas as religiões:
exatamente como os ‘pedreiros-livres e aceitos’, abrem diante de si, em sua
loja, qualquer livro sagrado - seja a Bíblia, seja o Corão, seja a Torá - aceito
pelo Estado temporal”.
No site Universo Místico
encontrei a definição de que “em termos gerais,
o Sufi é todo aquele indivíduo que acredita que é possível ter uma experiência
direta com Deus e que está preparado para sair de sua vida rotineira para se colocar
debaixo das condições e meios que lhe permitam chegar a este objetivo. Neste
contexto, o Sufi é considerado como o protótipo de todo místico que busca a
União” (Uma boa definição para um espírita também). Interessante
observar que o Sufi não é ensinado, senão orientado a descobrir os caminhos por
sua própria experiência, o que também foi um método pedagógico utilizado e
reforçado por Allan Kardec à época da codificação do espiritismo.
E qual a principal orientação Sufi? O
Amor. Com o coração imerso no Amor, o sufi abandona o
seu apego ao mundo para unir-se a Deus. Isso acontece sem que, necessariamente,
deva-se abandonar o mundo, ou afastar-se da sociedade. Afinal, não haveria
sentido em ensinar a Unidade rejeitando uma parte da expressão do Absoluto.
Como bem resume um ditado: “O sufi é aquele que está no mundo, mas não pertence
a ele.”
A meditação sufi do coração foi resgatada
para o ocidente pelo mestre indiano Osho juntamente com Krishnamurti, e é feita
com um estímulo musical, através de um CD que possui 6 faixas, compreendendo
cada um dos 6 estágios da meditação que tem a duração de 47 minutos. Além dessa
meditação específica, ao estudar sobre os Sufi, encontrei algumas orientações
sobre como meditar usando o Amor que podem ser feitas independentemente, desde
que o corpo esteja relaxado e a mente concentrada. Então gostaria de propor uma
orientação específica nesse momento para experimentarmos o “meditar utilizando
o amor”.
Peço a todos que fechem
os olhos enquanto eu vou ler calmamente a orientação para essa breve meditação.
O primeiro estágio nesta meditação é evocar o sentimento do amor, que ativa o chakra do
coração. Isso pode ser feito de várias maneiras, a mais simples sendo pensar
em alguém que se ama. Pode ser Deus, o grande Amor. Mas geralmente
no começo Deus é mais uma idéia do que uma realidade viva dentro do coração, e
é mais fácil pensar em alguém que se ama, um(a) namorado(a), um(a) amigo(a).
Vamos então evocar esse sentimento em nosso coração.
O amor tem muitas
qualidades diferentes. Para alguns o sentimento do amor é um calor, ou uma
doçura, uma suavidade ou maciez, enquanto para outros tem o sentimento da paz,
tranquilidade ou do silêncio. O amor também pode vir como uma dor, uma mágoa no
coração, uma sensação de perda. Seja como vier, nós
mergulhamos nesse sentimento; nos colocamos por inteiro no amor
dentro do coração.
Quando nós invocamos
este sentimento de amor, os pensamentos vão vir, entrar em nossa mente — o que
fizemos ontem, o que vamos fazer amanhã. As memórias flutuam, imagens aparecem
perante os olhos da mente. Temos que imaginar que estamos pegando cada
pensamento, cada imagem e sentimento, e afogamo-lo, fundindo-o no sentimento de
amor.
Cada sentimento,
especialmente o sentimento de amor, é muito mais dinâmico que o processo de
pensar, por isso se fizemos a prática bem, com a concentração impecável, todos
os pensamentos desaparecem. Não sobra nada. A mente fica vazia.”
Então vamos fazer, cada
um ao seu tempo, esse exercício – de entregar cada pensamento e imagem que vier
à mente para esse fluido de amor, mergulhá-los no sentimento de amor.
Enquanto ainda estão
imersos nesse exercício, gostaria de encerrar a palestra de hoje – podem seguir
com os olhos fechados – lendo uma poesia Sufi que encontrei durante esse estudo
que tem sintonia com o que viemos buscando aqui no Centro Espírita Casa do Sol.
Eu desejo ir para longe,
Centenas de milhas da mente.
Desejo me libertar do bom e do mal.
Quanta beleza por trás dessa cortina!
*
Existe uma alma dentro de sua alma.
Busque por ela.
Existe uma jóia na montanha que é seu corpo.
Olhe para a mina que contém essa jóia.
Ó sufi andarilho
Busque dentro de você e não fora.